I As horas passam, Dias. Sem que sentido façam, Frias. A saudade aperta, Dor. Queria você por perto, Amor. De noite há festa, Animação. Mas só me resta Solidão. Não sei porquê persisto, Impossível? Pois não resisto, Imprevisível. Itanhandu, 1994 II Estou feliz, Apenas feliz. Será que é tudo O que importa? Não! Mas é suficiente. Ao menos Por hoje. Rio 9-7-95 III Cansaço, Cansaço não só físico Como mental e espiritual. Cansado da rotina? Não. Não acho que esteja. Pouco tenho a reclamar Da rotina. Afinal o que seria a vida Se não fosse uma rotina? Apenas surpresas? Então as surpresas seriam A rotina. Cansado sim! Mas não da rotina Própriamente dita, E sim do saber que estou Cumprindo minha rotina Do melhor modo possível. Ou não seria o melhor modo? Talvez. Não sei... Cansado de tentar cumprir Minha rotina. Isso sim. Rio 15-7-95 IV Minha muralha despedaçou-se Como um castelo de areia. Varrida por uma onda Que parece maior do que todas as outras. Será? Não dou tanta importância A ela quanto eu dei As outras. Será uma carapuça que vestí? Para fugir do sofrimento Sistemático que a erosão Das ondas me traz? Na verdade, Aprendí a conviver Com esses baques que A vida nos traz. Dia após dia. Sempre a nos atordoar, Perseguir e Bombardear. Mas hoje sou um outro eu. Não temo o mundo, Nem penso nele. Pois ele é mesmo assim. Rio 27-7-95 V Solidão. Induzida por esta Música triste. Cuja única voz se Arrasta sózinha pelos cantos. Silêncio. Gerado pelo fim da Música. Mas que traz dentro de Sí Muito mais tristezas. Pensamentos. Vieram após o silêncio. Trazidos pelo próprio Sofrimento que eles causam e Não compreendem. Tristeza. Que veio com a volta dos Pensamentos. Que há muito Haviam me abandonado. Rio 27-7-95 VI A alegria invadiu minha alma. O problema era a solidão. Risadas e piadas. Me encheram de emoção. Re-erguí minha carapuça, Mas quanto irá ela durar? Não sei. Refugiei-me no quarto Para escrever esse poema. De volta a solidão. Mas desta vez estou feliz Para suportar a pressão Do sofrimento. Rio 27-7-95 VII Corrompem-se Os Pilares de meu castelo. Corroídas pela solidão ácida Suas muralhas tendem a ruir. Ruir logo agora? Quando eu pensava estar a salvo de Tamanha infelicidade? Não! Não posso deixar Que isso aconteça. Não posso deixar que a solidão Me abata. Carente? Carente. Sim, carente estou. Sinto falta de um colo Para me deitar e chorar. Chorar? Mas se um colo eu tivesse Não iria chorar. Mas sim rir. Rir. Um riso alegre. De quem tem Um colo para se deitar e chorar. Rio 6-8-95 VIII A verdade abateu-me com um baque só. De que adiantam tantas muralhas e Carapuças vestidas, se numa noite só Tanto desespero pode ser causado? Tanta solidão eu sentia Quando estava na verdade rodeado de amigos. Mas não eram eles que me dariam conforto. Era algo mais que eu procurava. Oh! Quantas palavras eu queria poder Sussurrar em seu ouvido. Palavras quaiquer, desde que Sussurradas no seu ouvido. Mas não! Você não estava lá. E a solidão me envolveu. Me trouxe um desespero mórbido e Uma vontade louca de te ver. Falar, Sentir sua presença, Ouvir sua voz. Mesmo que meus sentimentos não sejam Compartilhados por você. Mas o que mais me causa dor É saber que você passa por estas mesmas Angústias, e que se nega a abrir os olhos. Abrir os olhos e perder o medo. Medo de começar outro relacionamento. Medo de que tudo dê errado como da outra vez. Medo de sofrer novamente tudo o que você sofreu Nesses ultimos tempos. (Medo esse que eu por tanto tempo tive, E ainda hoje tenho, Mas me obrigo a enfrenta-lo. Pois senão viverei para sempre Nas trevas da solidão). Mesmo assim você insiste Numa classificação ridícula. Separando duas coisas que Estão intimamente ligadas. (E com isso, foge De algo que poderia ser Éden ou Xangrilá; se assim preferir.) Pois o amor nada mais é Do que a amizade perfeita. Rio 6-8-95 IX Sou como um cavaleiro andante. Vivo a vagar pelo mundo, O meu mundo. Vago sózinho de grupo em grupo, De interesse para interesse. Raro quando fico num lugar por algum tempo, Parece-me que nunca sou acolhido por longo. No princípio tudo são flores, Depois minha atenção começa a se desviar, Ou é forçada a se desviar. No fim acabo me movendo de novo. Por vezes o motivo de minha partida É por eu estar cansado de algo que considero Medíocre. (Mas quem sou eu para julgar os outros?) Por outras sinto que não sou muito bem vindo por lá. (Embora muitas vezes isso venha do medo de não ser querido). Independente do motivo Nunca paro quieto. Seja numa festa, Seja no centro de minhas atenções, Seja na totalidade da minha breve vida. Por que Não posso ser simples como qualquer outro? Por que Tenho que viver nessa vida de cavaleiro errante? É isso! Sou um cavaleiro errante. Ridículo na sua pretenção. Louco talvez. Mas que dentro da sua loucura Percebe uma lógica torta para o mundo. Talvez por isso me sinta Tão fora de lugar, Tão indesejado as vezes e Tão caçoado em outras. Sim! Não sou um nobre como Lancelot ou Galahad. Não busco o Santo Graal, Ou relíquia semelhante. Sou apenas um Dom Quixote, Que busca donzelas para salvar De malvados moinhos. Mas moinhos não são fáceis de se encontrar hoje em dia, Nem donzelas nescessitadas de um trapalhão. Mas me contentaria com uma Dulcinéia que me curasse as feridas Abertas na última batalha, (Com um poste que seja, Desde que faça o papel do moinho malvado). E que entenda a importancia de Lutar com um poste. Será que eu idealizo demais minha Dulcinéia? Não sei. Mas por enquanto Continuo errando por aí Em busca de Dulcinéia querida. Rio 12-8-95 X Sem motivo. Verdade! Motivos não existem. Será? Será mesmo que não tenho motivos? Abandonado, Esquecido, Só. Por um e por todos, Por todos em quem me apoiava. Não encontro ninguém. Nada em que me fiar, Até mesmo meus livros Não me despertam mais interesse. Preciso de algo novo! Novos ares para respirar, Novas pessoas para conhecer, Novas idéias para pensar. Mas onde buscar inspiração? Se tudo o que conhecia me parece tão Distante. O que ler? Quem conhecer? O que ouvir? Onde ir? Enclausurado, É como estou. Enclausurado em casa, Enclausurado nas mesmas idéias, Isolado da sociedade. Mas isolado sem estar fisicamente Afastado. Como se uma força inexistente me prendesse E me impedisse de fazer algo novo. Devo enfrentá-la! Mas não hoje. Minhas forças já acabaram, Procurarei conforto em valores Antigos. Para voltar ao princípio do Ciclo. Rio 25-11-95 XI O que aconteceu comigo? Não sei, um dia tudo é belo, Tudo parece correto, Começo a acreditar que Encontrei o que tanto procurava. (Mesmo que na verdade tenha Minhas dúvidas se realmente Deveria considerar finda minha busca. Mas meus olhos estão cegos e mesmo Com toda a lógica dizendo que é apenas mica, Deslumbro-me com seu dourado Que é mais do que suficiente para Eu ser feliz) Embora eu tenha encontrado Tal tesouro, não posso ainda Dizer que é meu! Quantas angústias venho sofrendo Por não poder tê-lo comigo No momento de que mais o desejo. Quanta tristeza por não saber Quando poderei novamente Contempla-lo, Apalpa-lo, Guarda-lo e Saber que quando precisar Ele estará ao alcance de minha mão. A tragédia da incerteza, Medo, incerteza e dúvida. Chavão da minha área, Que pela primeira vez sinto, Embora desta vez seja no lado pessoal, Emocional e mental. Sofro porque penso, Como já me disseram tantos Poetas tão melhores. Mas não consigo não pensar Enquanto espero pelo meu tesouro. Procuro algo para passar o Tempo. Por isso escrevo estes versos, Sofridos, tristes, impacientes. Rio 11-8-96
Copyright 1996 Vitor Conceicao