Pensamentos...
I
Sento me a escrever estes versos
Que não sei donde irão dar.
Ser poeta é muito mais do que pensar...
É ver e entender que não se pode compreender.
O mundo é como ele é,
Sempre foi e
Sempre será.
Será?
Que não o posso mudar?
Será que estes versos
Não o podem influenciar,
Com o bater das asas do
Caos?
Como a borboleta faz.
Rio, 9-7-95
II
Ouvir, sentir,
Apreciar.
Apreciar o mundo,
Como ele é e como será.
Pois ele apenas é,
E como você ele apenas existe.
Agora, ontem e
Amanhã.
Rio, 9-7-95
III
O escrever,
Tantas vezes recriminado,
Tantas vezes desprezado e
Tantas vezes repetido.
Apenas o fluir de pensamentos.
Pensamentos que não aspiram
Nada que não possam sentir,
Gozar e apreciar. Como aprecío
A vida, e como a tanto desprezei.
Suja, injusta e cheia desilusões.
Que parecem como se feitas especialmente
Para mim. Mas já as vejo como são.
Só isso, vejo. Pois aprendí a não
Tentar compreender.
Mas continuo buscando o conhecimento,
(Pois conhecer não implica compreender),
Do mundo. Com o sonho de conseguir,
De alguma forma, passar este conhecimento adiante.
Sonhando em ser a borboleta que mudará
O mundo.
O saber precisa ser livre,
Livre de qualquer seleção.
Que possa de qualquer maneira
Limitar o alcance do saber.
Mas é necessário estar disposto a
Absorver o conhecimento, e saber onde
Estão as verdades, pois elas simplesmente são.
E não precisam de explicação.
Pois o mau uso das idéias pode ser muito pior
Do que o simples ignorar.
Não seria isso uma espécie de censura?
Negando o saber a alguém que não o queira ver,
Pelo risco de ser mau usado.
Mau usado como tantas vezes tem sido,
Como sempre fizeram com a ciência.
Uma censura ridícula imposta por mim,
Que nada mais sou do que alguem que pensa poder
Ser poeta.
Rio, 9-7-95
IV
Escrevendo isso me lembro de Pessoa.
Que tantas vezes lí,
Discutí e filosofei.
Uma pessoa como outra qualquer?
Não!
Não posso sequer pensar em ser como ele.
Embora tantas vezes tenha me reconhecido
Em seus poemas,
Tristes,
Felizes,
Simples.
Não ouso comparar
Meus pequenos escritos
Com a arte e filosofia
De suas grandes obras.
Grandiosas pois sim!
Mas ao menos aprendí,
Com ele,
A pensar no mundo
Com meus olhos,
Meus ouvidos e
Meu corpo.
Coisas tangíveis,
E não abstratas como a mente.
Que corrompe
As verdades da vida
De simples para
Mentiras complexas.
Que se disfarçam de enigmas
E tanta dor causam.
Não!
Nao sou Pessoa,
Embora pessoa seja.
Assim mesmo com minúsculas.
Pois assim apenas sou,
Sem ousar e sem sofrer.
Rio 9-7-95
V
A noite,
Misteriosa como
A noite,
Esplendorosa como
A noite,
Aconchegante como
A noite,
Apavorante como
A noite,
Transformadora como
A noite,
Estarrecedora como
A noite,
Só como
A noite.
Rio 15-7-95
VI
Acordo de manhã.
Levanto-me, Leio o Jornal
E tomo café da manhã.
Rotina?
Tomo banho,
Me visto, saio de casa
E pego o ônibus.
Rotina?
Leio um livro durante a viagem.
Chego ao trabalho
E lá passo o dia.
Rotina?
Volto para casa
Ao anoitecer.
Procuro algo para fazer à noite.
Rotina?
Nada aparece,
E depois de jantar
Só me resta deitar e dormir.
Rotina?
Rotina.
Ruim?
Não sei. Ao menos
Me impede de pensar.
Rio 26-7-95
VII
Um brinde a música
Que nos brinda a alma.
Trompete, dourado e
Rascante, que corta a
Monotonia de um
Acompanhamento surreal.
Controverso?
Não! cheio de
Detalhes e com
Muito ritmo. Brindemos
Já.
É a voz do trompete
Ecoando na música.
A resposta do piano,
Numa conversa surreal.
A batida dos pés
Da bateria se metendo.
E o trompete
Jaz.
O dourado das luzes,
Refletindo no belo
Instrumento de
Metal. Que mesmo assim
Desiste de cantar.
Deixa os outros se destacarem,
Sucedendo-se eternamente
Numa ordem surreal.
Jazz.
Rio 27-7-95
VIII
Tempo!
Por vezes tão rápido que não me deixa
Fazer tudo o que gostaria.
Há Tempos,
Como agora,
Que sinto me preso por não o ter.
Tempo!
Que por outras
Parece como que parado.
O infinito num instante!
Tempo!
Ele de novo,
Sendo pouco quando é muito.
Tempos!
Que parecem que
Como se entrelaçados.
Tempo!
Que se mistura e nos confunde.
E nos deixa como que paralisados.
A desordem no equilíbrio!
Rio 17-8-95
IX
Louco!
Sim sou louco!
Ouço silêncio
No meio da música.
E a música
No fundo do silêncio.
Serei?
Louco mesmo?
Ou apenas estarei?
A loucura está contida
Em todos nós.
Loucura!
Nada mais do que
Um preconceito criado.
Por todas as pessoas do mundo.
Sociedade!
Não, não és culpada!
Muito fácil culpar a sociedade
Como se ela fosse apenas mais um orgão governamental.
Assunto?
Não voltarei!
Ao assunto que antes contemplava.
Pois é assim que somos,
Perdemos o fio dos pensamentos.
Voltar!
Verdade não nos lembramos.
De onde estávamos
Ou do que falávamos.
Rio 17-8-95
Copyright 1996 Vitor Conceicao